Centrais fazem festa, mas trabalhador perdeu direitos

As datas significativas nem sempre nascem de eventosfelizes da história, mas representam marcos na trajetória da Humanidade.

O dia 1º de maio está entre essas datas, pois desde 1886, lembramos das dezenas de trabalhadores mortos pela repressão policial, nos Estados Unidos. O heroísmo dos “Mártires de Chicago” será sempre lembrado.

Mas o Dia Internacional dos Trabalhadores não escapou da exploração comercial, que transformou a data máxima da classe trabalhadora em um megaevento com apresentação de músicos famosos e sorteio de brindes, como casas e apartamentos, carros e motocicletas, eletrodomésticos e viagens.

Enquanto isso, empresários e parlamentares puseram em prática um plano de supressão de direitos trabalhistas e sociais, que culminaram com a aprovação da terceirização sem limites, na PEC do Tetos dos Gastos, na reforma trabalhista e no começo da privatização da Previdência Social, com a reforma previdenciária.

A reforma trabalhista deformou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), ao modificar mais de 100 itens e criarfiguras como o trabalho intermitente e a permissão do trabalho para mulheres lactantes. A promessa de gerar milhares de empregos passou em branco.

O pior é pensar que os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que registrou o índice de 12,7% de desempregos, com 13,4 milhões de trabalhadores sem emprego, não correspondem à realidade. Ao somar o número de quem perdeu emprego, com quem procura emprego e quem desistiu de procurar uma vaga no mercado de trabalho, o total de trabalhadores sem emprego se aproxima dos 20 milhões de pessoas.

Então, por qual motivo as centrais sindicais promovem festa no dia 1º de maio?

Que festa é essa em que milhões estão desempregados e não há luz no fim do túnel?

Pois saibam que a festa do trabalhador sempre é barata, na proporção dos salários defasados e do realismo típico da classe trabalhadora.

O sindicalismo que praticamos defende a vigência do regime geral na Previdência, o reajustamento da tabela do Imposto de Renda e a reforma partidária, que impeça o revezamento no poder entre os grandes partidos, com as legendas menores fadadas à extinção. No campo das reformas estruturais, acreditamos na capacidade de uma reforma tributária de simplificar e desburocratizar os tributos, buscando unificar esses impostos. 

Apesar de tanta contrariedade, acreditamos que mesmo diante da apatia e do conformismo dos dirigentes das centrais sindicais, a solução está nas mãos dos trabalhadores, que devem unir as forças e enfrentar tamanho desafio.

Miguel Salaberry Filho é presidente do Sindicato dos Empregados em Clubes e Federações Esportivas do Rio Grande do Sul (Secefergs) e Secretário de Relações Institucionais da União Geral dos Trabalhadores (UGT)