Governar é preciso

Eleito com uma agenda econômica liberal e um discurso crítico ao Congresso Nacional e ao Poder Judiciário, o presidente Jair Bolsonaro chega à metade do mandato sem promover as reformas prometidas. A impressão que tenho é de que ele ainda está em campanha eleitoral.

Deputado federal por quase três décadas, Bolsonaro assumiu uma postura de “presidente contra o sistema”, que passou a atacar a chamada “velha política” e ser contra a negociação de cargos com partidos políticos.

A montagem de um governo sem conchavos ou acertos políticos e composto por ministros técnicos seria o diferencial do bolsonarismo. Porém, a partir da metade de 2020, o governo passou a buscar uma aliança com políticos do Centrão, grupo de partidos sem clara identidade que costuma aderir aos governos, em troca de cargos e verbas para sua base eleitoral.

No começo de fevereiro, a aliança com o Centrão ajudou a eleger o deputado Arthur Lira (PP-AL), candidato de Bolsonaro para a presidência da Câmara, assim como Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que assumiu a presidência do Senado.

FOCO NAS REFORMAS

No entanto, o enfrentamento da crise econômica, acentuada pela pandemia, requer a execução de ações concretas que acelerem as reformas nos campos fiscal, tributário, administrativo e partidário.

Mas se o Governo Bolsonaro é capaz de articular o Centrão para defender interesses pontuais, como a blindagem das denúncias contra os filhos do presidente, porque não utiliza a mesma força para acelerar a aprovação das reformas de caráter urgente, que atuem pela estabilidade política e avancem no processo de desenvolvimento econômico.

Apático e negacionista, o governo federal pouco fez diante do acirramento das crises econômica e sanitária, que paralisaram a atividade econômica e fizeram crescer desemprego e informalidade.

Ao invés de liderar uma campanha pela vacinação, o Chefe do Executivo brasileiro preferiu desfazer do potencial letal da epidemia e defender a Cloroquina, medicamento desautorizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que interrompeu o uso em testes para tratamento contra a Covid-19. Estudo publicado pela revista científica Lancet, que envolveu mais de 96 mil pessoas, mostrou que além da ineficácia no uso do medicamento.

HORA DE GOVERNAR

Caberá ao Congresso Nacional a promoção das reformas que melhorem a estrutura das contas públicas e atuem na redução do déficit, com destaque para a reformulação no campo tributário e fiscal, junto à reforma administrativa.

A cobrança por uma atitude propositiva do Governo Bolsonaro cresce na medida em que o conjunto da sociedade contribuiu com sua cota de sacrifício para superar a crise mundial inédita. Empresários viram seus negócios refluírem e os trabalhadores da iniciativa privada tiveram jornada e salário reduzidos.

Lembremos que Bolsonaro foi eleito com um forte discurso anticorrupção, na carona do desgaste causado pela operação Lava Jato sobre a credibilidade dos partidos políticos. Durante a campanha e no início do mandato, o presidente e seus filhos eram fervorosos defensores da prisão após condenação em segunda instância e do fim do foro privilegiado.

Governe para o País, Presidente!

Miguel Salaberry Filho é presidente do SECEFERGS e Secretário Nacional de Relações Institucionais da União Geral dos Trabalhadores (UGT)