Mujica renuncia ao cargo de senador no Uruguai e lamenta a corrupção no Brasil

José “Pepe” Mujica, ex-presidente do Uruguai, que governou aquele país entre 2010 e 2015, renunciou à cadeira que ocupava no Senado e à própria vida pública. O anúncio, feito no dia 20 de outubro de 2020, surpreendeu a todos e foi reforçado pela renúncia conjunta de um antigo adversário de Mujica, Julio María Sanguinetti, que presidiu o país entre 1985 e 1990 e depois entre 1995 e 2000.

Em entrevista exclusiva à BBC Mundo, Mujica comentou a corrupção em países como México e Brasil e afirmou que a “vontade de ter bens materiais” não se relaciona bem com o serviço público.

Quem gosta muito de dinheiro tem que ser tirado da política. É preciso castigar essa pessoa porque ela gosta de dinheiro? Não. Ela tem que ir para o comércio, para a indústria, para onde se multiplica a riqueza”, declarou o ex-presidente uruguaio.

AVESSO DA GRANDEZA – Enquanto o gesto de José Mujica serve de exemplo para o mundo e a classe política, o senador Chico Rodrigues (DEM-RR) era flagrado pela Polícia Federal com R$ 33.150,00 na cueca, em cumprimento de mandato de busca e apreensão, realizado em 14/10, para apurar suposto esquema criminoso de desvio de recursos públicos destinados ao combate ao coronavírus, em Roraima.

Chico Rodrigues atuava como vice-líder do Governo Bolsonaro no Senado desde março de 2019, mas, diante da repercussão deixou o posto em 15/10 e renunciou na semana seguinte, no mesmo dia em que Mujica anunciou o afastamento por razões superiores. O senador pediu licença de 121 dias do Senado.

Com o pedido de afastamento, ficou inviabilizado um julgamento que estava previsto para acontecer no Supremo Tribunal Federal (STF). Com a mudança, Pedro Arthur Ferreira Rodrigues (DEM-RR), filho do parlamentar, pode assumir o cargo por ser suplente do pai. Pelo regimento do Senado, um suplente só assume quando o afastamento do titular supera os 120 dias.

FALAR COM AS PESSOAS – Impossibilitado de exercer o cargo devido a fatores de risco relativos à idade (85 anos) e à uma doença autoimune, para Mujica “ser senador significa falar com as pessoas e ir a todos os lugares”, pois “o jogo não é jogado nos escritórios”. Para Miguel Salaberry Filho,  presidente do SECEFERGS e  secretário nacional da União dos Trabalhadores (UGT), “bem que o exemplo de Mujica poderia inspirar os políticos brasileiros a seguir o caminho da decência e da retidão de caráter”.

Renato Ilha, jornalista (Fenaj 10.300)