Santiago acusa governo de propor o “extermínio do sindicalismo”

PRAIA GRANDE/SP – A reformulação no campo administrativo da União Geral dos Trabalhadores, sacramentada por delegados de todo o País no 4º Congresso Nacional da entidade, criou a figura do Vice-Presidente Executivo, que passa a integrar a direção executiva juntamente com o presidente nacional, os presidentes de estaduais, a Secretaria Geral e sete outras secretarias.

A escolha para assumir a nova função recaiu sobre Roberto Santiago, presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Serviços, Asseio e Conservação, Limpeza Urbana, Ambiental e áreas Verdes (Fenascon), que já representou os trabalhadores brasileiros no Congresso na condição de deputado federal. Os delegados do 4º Congresso, realizado nos dias 30 e 31 de maio, nas dependências do Ocian Praia Clube, em Praia Grande, município do litoral paulista, foram unânimes na aprovação ao nome de Santiago, cujo perfil reúne a características apropriadas para o momento.

Definindo como fundamental o momento da realização do 4º Congresso, Santiago exaltou a possibilidade do debate em torno dos temas relevantes para o chamado mundo do trabalho no Brasil e no mundo. Para ele, a inteligência artificial surge como uma ameaça para profissões e carreiras, assim como haverá de criar outras, que se adequem à realidade que se transforma, e o movimento sindical deve estar preparado para compreender os acontecimentos – “para não ser pego de surpresa” – e encontrar alternativas de ocupação para aqueles que vierem a ser substituídos nesse processo.

Junto aos temas de natureza social, o presidente da Fenascon inclui a preocupação com a questão da organização sindical, recentemente ignorada pelo presidente Jair Bolsonaro ao editar a Medida Provisória 873, que não apenas proíbe que seja feito o tradicional desconto em folha da contribuição sindical, mas cria uma série de impeditivos que dificultam ainda mais o recolhimento.

“IMPOSTOS FACULTATIVOS”

Para Roberto Santiago, “o governo de Extrema Direita (de Jair Bolsonaro) propõe o extermínio do movimento sindical”, pois não existe governo sem arrecadação e não haverá qualquer movimento sem arrecadação. Ironicamente, o ex-deputado sugere que os impostos sejam pagos de forma espontânea, da mesma forma como o governo quer determinar para os sindicatos.

“Faltará dinheiro para pagar a conta de luz do Palácio do Planalto”, observa com o sindicalista sarcasmo, advertindo que “Pau que bate em Chico também bate em Francisco”.

Santiago reconhece o poder da Constituição de 1988 de ter “atomizado o movimento sindical”, conforme disse, mas lamentou que alguns oportunistas tenham abusado na fundação de sindicatos sem representatividade. O dirigente da Fenascon defende a rediscussão do modelo e a promoção de fusões entre entidades que representam categoria com atividades afins. Na base, Santiago acredita na conversa franca, que saiba expor a importância do sindicalismo para a vida das pessoas, usando como exemplo o quanto uma reforma feita na Previdência Social pode afetar a vida de cada um.

A “NOVA PREVIDÊNCIA”

O novo vice-presidente executivo da UGT contestou as frases de efeito que vem sendo utilizadas pelos arautos da reforma previdenciária apresentado pelo governo. Frases como “Quem ganha mais paga mais” e “Quem ganha menos paga menos”, que podem ser lidas nos materiais de divulgação oficial, servem para iludir a população de que existe algo de bom no maldoso projeto da “Nova Previdência”.

Na avaliação do ex-deputado Roberto Santiago, as abordagens propostas pelo 4º Congresso ajudam os sindicalistas a estruturar modelos de organização e preparar para a atuação conjunta na greve geral, marcada para o dia 14 de junho, pelas centrais sindicais, em conjunto com o movimento social. Parafraseando um sindicalista que ganhou notoriedade quando ocupou cargo na estrutura da União, o líder ugetista ironizou: “O movimento sindical é imexível”.

 

Renato Ilha, jornalista (Mtb 10.300)