Sem investir em infraestrutura, Brasil patina e não cresce

Quando o assunto é infraestrutura, costumamos andar em círculo, ao confundir tamanho das obras com a finalidade delas. Infraestrutura é todo aparato de condições que sustenta a produção de bens e serviços, assim como o fluxo entre vendedor e comprador, como nas comunicações, transportes (vias, veículos, sistema de tráfego.), eletricidade e combustíveis (produção, distribuição, manutenção de rede) e saneamento básico (fornecimento de água potável, rede de esgotos), entre outros elementos utilizados para fins públicos.

Sem projetos bem estruturados, com racionalidade econômica e volume suficiente para atrair investimentos, não conseguimos crescer como poderíamos.

Ao consolidar a fiscalização relacionada às obras preparatórias para a Copa do Mundo de Futebol de 2014, o Tribunal de Contas da União (TCU) apresentou relatório fechando a conta em R$ 25,5 bilhões. Do total, R$ 7 bilhões foram gastos em mobilidade urbana e R$ 8 bilhões em estádios. As obras relativas a aeroportos custaram R$ 6,2 bilhões e as obras de entorno dos estádios custaram R$ 996 milhões.

PENSAMENTO NANICO

Enquanto a média mundial de aporte na infraestrutura é de 5%, o Brasil destina apenas 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) para o setor, um índice insignificante, pois freia o crescimento econômico e diminui a competitividade das empresas brasileiras. É preciso mais dinheiro para mudar, pois existe uma relação direta entre infraestrutura e emprego. O setor é o mais gera emprego, por estar na base da economia.

Instituição com mais de 40 anos no desenvolvimento de executivos, gestores públicos, empresários e organizações de diversos segmentos nos Estados Unidos, China, Índia, Rússia, Europa e América Latina, a Fundação Dom Cabral concluiu que o Brasil cresceria 1% ao ano, chegando a 10% ao final de uma década, se destravasse os investimentos em infraestrutura.

No primeiro dia de março de 2018, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentou números do crescimento do PIB, em 2017. Em valores correntes, o Produto Interno Bruto do país totalizou R$ 6,6 trilhões. Aplicando o raciocínio da FDC, seria como se o país tivesse um ganho adicional na sua economia de cerca de R$ 66 bilhões na economia em um ano – ou R$ 660 bilhões em uma década. A dimensão do montante de recursos pode ser avaliada a partir da comparação com o PIB de São Paulo (R$ 1,9 trilhão, em 2017), que é o estado mais rico do país, com 29% do PIB brasileiro.

PROIBIDO INVESTIR

Como 2018 é o primeiro ano em que o orçamento da União foi reajustado apenas de acordo com a inflação do ano anterior, ocorreu um congelamento dos gastos públicos na prática. A partir da aplicação da PEC do Teto dos Gastos, de acordo com o Ministério da Fazenda, o investimento de 112 bilhões previsto no orçamento deste ano pode cair para menos de 90 bilhões, o que vai atingir principalmente gastos com manutenção de estradas e despesas consideradas não obrigatórias.

Infelizmente, os debates entre os candidatos ao cargo de Presidente da República desprezam temas como o papel do investimento em infraestrutura. As propostas apresentadas são superficiais e distantes da grave crise econômica, com desemprego galopante e falta de perspectiva. As eleições retratam fielmente a falência de um sistema político, que custa caro e transformou a política em um balcão de negócios, que só envergonha o Brasil.

 

Marcelino Pogozelski
Presidente SINTRAN/RS