Sindivalores-RS aponta banqueiros como culpados por assaltos a bancos

 

Dois assaltos a bancos ocorridos nas cidades de Criciúma, em Santa Catarina, e em Cametá, no Pará, reacendem o debate sobre o que fazer para frear a ousadia dos criminosos.

Norton Jubelli, presidente da União Geral dos Trabalhadores do Rio Grande do Sul (UGT-RS) e tambémdiretor financeiro do Sindicato dos Empregados e Trabalhadores em Empresas de Transporte de Valores e Escolta Armada do Rio Grande do Sul (Sindivalores-RS) vê nos casos semelhanças que revelam as causas dessas ocorrências.

Na condição de motorista do carro-forte, Jubelli aponta a uma diferença que classifica de abismal entre o armamento utilizado pelo crime organizado e aquele disponível para as forças de segurança pública. Os bandidos dispõem de quantidades expressivas de armamentos e munição muito superior àquela que o Estado oferece para as forças policiais.

CULPA DOS BANQUEIROS

O ugetista gaúcho aponta os bancos como maiores responsáveis por tais acontecimentos, devido ao processo de fragilização das estruturas físicas das instituições bancárias. Os bancos investem bilhões em tecnologia para reduzir custos operacionais, como são exemplos as transferências e pagamentos instantâneos (Pix), a autonomia dos clientes em operar caixas eletrônicos, que produzem efeito na redução de pessoal.

Na opinião de Jubelli, as instituições financeiras não se importam com explosões de agências ou a morte de populares, policiais ou vigilantes. A preocupação dos bancos está voltada para a garantia da crescente remuneração das operações que executam.

“Os bancos não precisam produzir nada para ter rentabilidade garantida”, afirma o presidente da UGT-RS, para quem é grande a possibilidade de que tais acontecimentos passem a ocorrer com maior frequência.Quanto menos recurso financeiro estiver circulando, mais assaltos desse tipo vão ocorrer, pois ao armazenar a moeda, os bancos se tornam o principal alvo dos bandidos”, assinala o sindicalista.  

ATAQUES A CENTROS REGIONAIS

A escolha de cidades de porte médio é um indicativo de uma tendência nas ações desses grupos criminosos. Tanto Criciuma como Cametá são polos regionais e centro de concentração econômica. Criciuma é o principal polo carbonífero do Sul de Santa Catarina e agrega um contingente populacional acima de meio milhão de pessoas. Por essa característica, a cidade sedia uma tesouraria regional do Banco do Brasil, que é descentralizada para facilitar o abastecimento.

Na visão do ugetista, os bancos não se importam com as vidas perdidas e nem com o trauma provocado pelos criminosos aos cidadãos. Para ele, os banqueiros pensam unicamente em como ampliar os lucros. “Sem discutir o tema com a devida seriedade, continuaremos ‘enxugando gelo’, pois é preciso chamar os banqueiros para a conversa”, adverte o líder sindical.

Um fato marcante nos dois assaltos foi a ação dos criminosos que sitiou a polícia militar nos quartéis, fato que ilustra o nível de planejamento da operação. Jubelli aponta um grau de formação superior dos assaltantes, que contam com a presença de ex-integrantes das forças de segurança pública entre os quadros, capazes de manusear armamento de guerra e explosivos, estando preparados para enfrentar situações extremas.

“O NOVO CANGAÇO”

O resgate da expressão “Novo Cangaço faz referência às ações que eram praticadas por cangaceiros, em modalidade criminosa semelhante à posta em prática em Criciúma, na madrugada de 1º de dezembro. Um grupo formado por cerca de 30 assaltantes, portando fuzis earmas longas, amparados pelo equivalente a um patrimônio de R$1 milhão.

A expressão remete à onda de violência no sertão nordestino entre os 18 e 20 e passou a ser associada às ações de bandos itinerantes que roubam instituições financeiras e atacam quartéis em cidade de pequeno e médio portes.

O termo “Novo Cangaço” surgiu no final da década de 1990 e se consolidou nos anos 2000 com os ataques promovidos por grupos criminosos que invadiam municípios no Nordeste para assaltar carros-forte.

PLANEJAMENTO RIGOROSO

Uma grande estrutura requer que haja um planejamento estratégico, com pessoas participando no cotidiano da cidade bem antes da ocorrência do crime, em que tudo é planejado e nada é feito por acaso. Um planejamento minucioso, escudado por investimento em armas pesadas e veículos potentes, são a marca desses grupos de atuação interestadual.

O grupo entra na cidade, faz reféns e utiliza-os para evitar um confronto com a Polícia Militar. Até mesmo as notas de dinheiro roubadas do banco que são deixadas pelas ruascumprem a finalidade de colocar as pessoas nas ruas no momento do crime, para ampliar o caos e facilitar a fuga.

Renato Ilha, jornalista (Fenaj 10.300)