UGT aponta racismo como causa de agressão até a morte de homem negro, em Porto Alegre

Um homem negro foi espancado e morto por dois homens brancos em Porto Alegre, na noite de 19 de novembro, Dia da Bandeira e véspera do Dia da Consciência Negra. João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, foi agredido na unidade do supermercado Carrefour, localizado em um dos pontos mais movimentados da Zona Norte da capital gaúcha.

As imagens gravadas, que circulam nas redes sociais, mostram os dois agressores surrando o cliente, na área externa da loja. Com 24 e 30 anos, os dois foram presos em flagrante, pelo crime de homicídio qualificado. O policial militar temporário foi levado para um presídio militar e o segurança da loja está em um prédio da Polícia Civil.

A Polícia Militar informou que o espancamento começou após um desentendimento entre a vítima e uma funcionária do supermercado, que chamou a segurança por se sentir ameaçada pela vítima. Uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) tentou reanimar o homem depois que ele foi espancado, mas ele morreu no local.

ATO EXPLÍCITO DE RACISMO

Dados divulgados em agosto deste ano pelo Atlas da Violência 2020 indicam que os assassinatos de negros cresceram 11,5% em dez anos, enquanto os daqueles que não são negros caíram 12,9% no mesmo período. Entre os negros, a taxa de homicídios no Brasil saltou de 34 para 37,8 por 100 mil habitantes entre 2008 e 2018. O relatório também mostra que, em 2018, os negros representaram 75,7% das vítimas de todos os homicídios.

Diretor financeiro do Sindicato dos Empregados e Trabalhadores em Empresas de Transporte de Valores e Escolta Armada do Rio Grande do Sul (Sindivalores-RS), Norton Jubelli, aponta o preconceito racial como estopim das agressões contra o cidadão negro, que foi espancado sem motivo enquanto aguardava sua vez na fila do caixa.

Para Jubelli, que também preside a União Geral dos Trabalhadores gaúcha (UGT-RS), os vigilantes devem estar bem preparados para lidar com situações inusitadas. “O treinamento e a educação profissional são essenciais para evitar comportamentos impróprios, que decorrem da falta de competência técnica para agir em determinadas circunstâncias”, observa o ugetista gaúcho.

CARREFOUR E PM CONDENAM ATO

Em nota, o Carrefour informou lamentar profundamente o ocorrido e que iniciou rigorosa apuração interna, visando adotar providências que punam os responsáveis legalmente. A rede classificou o ato de criminoso e anunciou o rompimento do contrato com a empresa que responde pelos funcionários agressores.

Imediatamente após ter sido acionada para atendimento de ocorrência em supermercado da Capital, a Polícia Militar foi ao local e prendeu os envolvidos, inclusive o PM temporário, cuja conduta fora do horário de trabalho será avaliada com todos os rigores da lei.

A PM reafirma o compromisso com a defesa dos direitos e garantias fundamentais e o total repúdio a quaisquer atos de violência, discriminação e racismo, intoleráveis e incompatíveis com a doutrina, missão e valores que a Instituição pratica e exige de seus profissionais em tempo integral. O crime está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Porto Alegre.

 

Renato Ilha, jornalista (Fenaj 10.300)