Vice-presidente da UGT defende reformas e despreza pretensa unidade

SÃO PAULO/SP – Enilson Simões de Moura, o conhecido “Alemão”, considerou “medíocre” a nota intitulada “Carta das Centrais Sindicais”, divulgada em 1° de janeiro e assinada por seis presidentes de entidades nacionais. Embora reconheça a necessidade de interlocução com o governo federal, Alemão descarta a possibilidade real de ações unitárias entre as centrais sindicais, em razão da clara distinção de posicionamento no campo ideológico

Pretensamente voltado para a abertura de diálogo com o recém empossado presidente da República, Jair Bolsonaro, o documento não consegue expressar um pensamento consensual entre as direções sindicais. Na visão do líder sindical, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) já assumiu posição definida no terreno oposicionista e não deverá modificar tal condição. Alemão defende que a União Geral dos Trabalhadores (UGT) siga um caminho próprio de atuação, sem insistir em uma unidade inexistente, na prática.

O vice-presidente ugetista acredita que a analise cabível no momento deve partir do reconhecimento de que o movimento sindical perdeu a legitimidade perante os trabalhadores em função da atitude de alguns dirigentes. O primeiro passo, no entendimento de Alemão, consiste em recuperar essa legitimidade, percorrendo o caminho inverso, em direção às bases.

Para Alemão, que também preside o Sindicato dos Empregados em Centrais de Abastecimento de Alimentos do Estado de São Paulo (Sindbast), “a realização das reformas é absolutamente necessária”, como a reforma previdenciária, classificada por ele como “evidente”. O sindicalista condena a postura defensiva da crítica antes mesmo da apresentação das propostas.

RECUPERAR O PODER INDUTOR DO ESTADO

Em contraponto a sistemática reclamação, Alemão defende o direito a uma aposentadoria digna para a classe trabalhadora, sem que o ato de se aposentar venha a ser um castigo ou uma ameaça. “O sindicalismo tem o dever de combater os privilégios, como o que existem em camadas da sociedade civil e no segmento militar”- prega o vice-presidente ugetista -, para quem é preciso haver correção no cálculo atuarial.

Considerando a reforma previdenciária como necessária, o sindicalista acredita que ela possa promover a justiça social, a partir da recuperação do poder indutor do estado brasileiro. Da mesma forma, Alemão vê na reforma do Estado e no processo de privatização oportunidades de retomar o potencial de investimento do governo, hoje emperrado pelo que chamou de “cabide de emprego do Lulo-petismo”, citando como exemplo a empresa criada para construir um trem-bala, que sequer possui projeto, mas paga altos salários para cerca de 150 funcionários.

Divergindo do criticismo habitual, Enilson Simões de Moura espera que o novo governo tenha êxito na tarefa de retomar o crescimento econômico, “para o bem do Brasil e dos 12,4 milhões de brasileiros desempregados”, observa. Alemão crê que a criação de um bom ambiente dependa do entendimento e do sucesso do pacto nacional que está sendo proposto pelo presidente eleito, com o propósito de impulsionar as reformas e o processo de privatização, que permitam a devolução do esforço empreendido pela sociedade. “Torcer contra o novo governo é torcer contra o Brasil”, adverte o vice-presidente da UGT.

Renato Ilha, jornalista (MTb 10.300)