Greve Geral. Eis a questão!

Independente de posições políticas, devemos refletir sobre a possibilidade real de promover uma paralisação de caráter nacional. Bem além do ato de parar o transporte público, após barrar a circulação de ônibus na madrugada, ou bloquear rodovias e pontes com barricadas de pneus queimando.

Tanto governo, como para políticos as consequências são mínimas, já que, vencida a turbulência daquele dia, retorna a normalidade, como se nada tivesse acontecido. As medidas antipáticas do Governo Temer, como a terceirização sem limites, o teto de gastos públicos, as reformas trabalhista e previdenciária, assim como a tentativa de aliviar a fiscalização sobre o trabalho escravo, são clara imposição da vontade de empresários, banqueiros e latifundiários.

Quem sofre com tudo é o trabalhador e a própria sociedade, que perdem mais do que dia de trabalho descontado ou pela obrigação de compensar a falta. As perdas vão além daquele dia de protesto: são direitos sociais cortados, ausência do Estado nas questões essenciais, como saúde, educação e infraestrutura, para não falar no aumento da influência do poder econômico, que já era grande.

Por enquanto, os servidores públicos ainda não perdem caso não trabalhem. Sem condições de convencer a população a aderir ao movimento, nada podemos contra a ofensiva dos poderosos.

MENTIRAS (CARAS) DITAS MIL VEZES

O gasto do governo federal com publicidade cresceu 65% no primeiro semestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2015. Levantamento do site Contas Abertas mostra que as despesas subiram de R$ 234,1 milhões, no ano passado, para R$ 386,5 milhões, em 2016. O montante inclui publicidade pública, institucional, legal e mercadológica. Somente em 2017, o montante do orçamento beira a cifra de R$ 1,6 bilhão.

Antes de pensar em mobilizar as bases, será preciso refletir sobre o afastamento das lideranças e do próprio movimento social dos locais de trabalho, para conversar e convencer o trabalhador.

Enquanto xingamos os governos e lançamos denúncias ao ar, esquecemos que o povo brasileiro pouco sabe sobre os próprios direitos e reconhece força nas lideranças que são apresentadas a ele. Enquanto acusamos a Reforma da Previdência de retirar direitos, o governo despeja milhões na mídia para dizer o contrário, pois sabe que não estamos no lugar em que devíamos estar: do lado do trabalhador, nas lojas, fábricas, praças públicas e todo o lugar onde o cidadão comum está. Neste lugar estão os mais de 13 milhões de desempregados, que não conseguimos mobilizar.

Até voltarmos aos bons tempos da luta, com trabalho de base diuturno, seguiremos dizendo que convocamos a greve, mas o povo não participou. Não adiantará quebrar tudo e trancar ruas, avenidas, pontes e rodovias, ou espalhar medo e terror.

A LIÇÃO DE SÃO MATEUS

Melhor será concluir que a reforma necessária é aquela que mude a mentalidade das lideranças, que devem descer do pedestal e retomar a contundência da ação política e social. Sem rever ações e atitudes, redefinir as atividades correremos em círculos. Embora a prática social não seja matemática, há uma lógica descrita além dos clássicos da literatura política.

Sem politizar a relação com os trabalhadores, os políticos vão continuar dizendo ser eles a solução para os problemas do povo e da Humanidade. Ou como chegamos a um Congresso Nacional dividido em 11 bancadas, que são de banqueiros, latifundiários e evangélicos. Sem falar das bancadas da Bala e da Bola. Do contrário, continuaremos sendo a maioria que é tratada como minoria, sem poder e expressão política na sociedade.

No dia 21 de setembro, a Igreja Católica celebra o Dia de São Mateus, o santo que deixou a vida rica. Apóstolo e evangelista, ele era coletor de impostos em Cafarnaum, na Palestina, mas preferiu a conversão cristã, pondo de lado a vida ligada ao dinheiro e ao poder para servir à pobreza.

O resgate da luta classista está na história de luta do povo brasileiro, que deixou um legado repleto de exemplos, como bem explicou o poeta Fernando Brant, na música “Sol de Primavera” imortalizada pelo cantor e compositor Beto Guedes, na frase “A lição sabemos de cor, só nos reta aprender”.

GILMAR JOSÉ PEDRUZZI é Secretário de Fomento Institucional da UGT